A Dieta Rochemback

Paulo Paraty: «Árbitros estrangeiros? Só se houver intercâmbio.»

No fim deste último verão, a rapariga do quiosque onde eu costumava comprar o jornal ofereceu-me este copo que representa, julgo eu, um período da vida de Carlos Martins. Surpreendentemente, meses depois, o copo continua sem lesões. Suponho que, na altura da oferta, já não estivessem disponíveis os exemplares com o Hélder Postiga bem vestido de azul e branco, o Cristian Rodriguez vermelhusco ou o Beto (antigo central do Sporting) envergando uma camisola do Real Madrid, adquirida a bom preço no Freeport de Alcochete.

Palavras de Mourinho à sua equipa depois da derrota sofrida pelo Inter de Milão contra a Atalanta:

"O primeiro Scudetto [título de campeão da Liga italiana] ganharam-no na secretaria, o segundo sem adversários e o terceiro no último minuto. Fomos ridículos pela primeira vez nesta temporada. E nem vou comentar 40 minutos de jogo que é para não dizer coisas de que me arrependa."

Via Cristina, no Contra Capa.

A fresquíssima Taça Carlsberg serviu, até ao momento, para perceber quatro coisas: 1) o nevoeiro, ao contrário dos árbitros, não favorece os grandes; 2) parece-me claro que só Maradona tem o telecomando de Lady Di (Maria) e não vai emprestá-lo; 3) não há, em Paços de Ferreira, nenhum móvel maior do que esta verdade: o guarda-redes castor, sem razão aparente, entontece de emoção ao vislumbre das pernas de Liedson; 4) Marcelo Moretto entontece de emoção com tudo.

No dia (ou na tarde, ou na noite - isto dependendo da lua) em que o Sporting vir validado golo seu, marcado em notória e notável posição de fora de jogo, mas em encontro a contar para o campeonato, para aquilo da Liga Sem Álcool, não é destes jogos para esta coisa da Taça Carlsberg, eu digo mais qualquer coisa sobre os árbitros e os bandeirinhas e os sistemas de compensação.
Agora, assim, não contem comigo para dizer mais que isto:
1 - Aquele defesa do Benfica que parece um caniche grande estava fora de jogo como o caralho, no jogo da Liga Não Bebas Mas Vais À Champions Se A Ganhares(LNBMVÀCSAG), quando marcou o golo da vitória contra o Braga.
2 - Já o caxineiro do Postiga e o patarata do montenegrino estavam ambos só um bocadinho deslocados, isto para o que me interessa - e para o que interessa, de facto - a competição intitulada Parece Impossível Realmente Ocorrerem Coisas Assim.
Eu aqui dispenso-vos da sigla por sono intenso. E por ainda não andar a dormir.

"Existe dentro do Sporting um potencial indiscutível para gerar um bom presidente” - José Roquette, hoje, ao Record.

Quando aquele livre decisivo foi marcado, eles não estavam separados por três metros de relva, como disse Jesus aos seus apóstolos, mas é indiscutível que o David Luiz se encontrava adiantado em relação ao último defesa do Braga. Há, no entanto, que revelar alguma condescendência para com jogadores que recuam tarde de mais da posição de fora-de-jogo mas que, como se envergonhados da pequena maldade, renunciam a esse privilégio e começam a jogada de raiz, reconquistando assim uma certa legalidade moral na altura de fuzilar o guarda-redes. Naquele lance de domingo, ainda sobrou muito trabalhinho para o David Luiz fazer. Neste outro exemplo que eu, imbuído de grande generosidade, aqui vos deixo, julgo que o árbitro teve também em atenção o escandaloso facto de se tratar de um golo do Postiga. Uma raridade, no fundo.

O mais grave problema da equipa do Porto, esta temporada, não é novamente a falta de um defesa esquerdo capaz de, pelo menos, cumprir os serviços mínimos (depois de dezenas de jogos inclinados para a direita, isso já seria o máximo), mas sim uma consequência inevitável da arrumação do calendário. Jogando cada semana contra a equipa que, na jornada anterior, teve de defrontar o Benfica, o Porto acaba por encontrar jogadores muito motivados (Trofense, desta última vez) ou enraivecidos e com as suas feridas ainda abertas (Braga, para a próxima). Oh como cansa, tanto fulgor.

Exmo. simpatizante do Sporting Clube de Portugal, lamentamos informá-lo que a opção «Filipe Soares Franco» já não se encontra disponível.

A comentar o jogo com o Guimarães Carlos Carvalhal explicou: "o Benfica está muito seguro". Seguro. Sim. O Benfica atacou menos que o Guimarães, teve menos posse de bola que o Guimarães, teve menos cantos e menos oportunidades. Jogou em contra-ataque. Tipo paços de ferreira no Estádio da Luz. Pior. Em campo estavam três centrais. Dois trincos, Yebda e Ruben Amorim. O extremo esquerdo foi Jorge Ribeiro e até o médio avançado gosta de jogar a central. E isto nem o Paços de Ferreira no Estádio da Luz. A maior audácia de Quique Flores em Guimarães foi jogar com meio guarda-redes. Enfim. Ganhámos. Tipo Paços de Ferreira no Estádio da Luz.

Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada.

PS: só agora reparei que o Francisco José Viegas faz a mesma observação que eu, mas, compreenderão os leitores, o difícil difícil seria que isto não acontecesse. Se quiserem eu mato-me. É só deixar um comentário não identificado a manifestar o desejo.

Não sei se apenas por causa do posicionamento das câmaras de filmar ou se também por outros motivos mais subtis, a qualidade da realização televisiva dos jogos de futebol, nos estádios da Madeira, é sempre tão terrível que qualquer partida se assemelha a um combate entre dois clubes amadores da terceira divisão chilena. No entanto, ontem, visto no ecrã, o golo do Cristian Rodriguez pareceu-me muito bom; o que significa que, sem a distorção insular, se deve tratar de um golo extraordinário, uma obra-prima do nosso tempo (menos uma hora nos Açores) e da eternidade que hoje começa, com o Porto em primeiro. Mas esse magnífico remate, a ter ocorrido como o imaginamos, não deve impedir que se diga aqui, neste blogue multicultural, que o Cristian Rodriguez fez, até agora, uma época mazinha, com cerca de vinte passes errados para cada momento de glória. E isto também não significa, por amor de Deus, que o Cristian Rodriguez seja mau jogador. Pelo contrário, é um jogador ainda jovem e com um punhado bastante razoável de qualidades, entre as quais se destaca uma arreliante agitação de «mosca à volta da lâmpada», capaz de cansar um morto, quanto mais um defesa. Por outro lado, Rodriguez é, provavelmente, o único extremo, em toda a Europa civilizada nestes assuntos da bola, que cabeceia melhor do que centra. Bem-vindos à fabulosa complexidade do ano 2009.